domingo, março 13, 2011

A geração à rasca

Não fui. Não fui à manisfestação. E isto nada tem a ver com concordar com o propósito da coisa ou não. Ou de concordar ou não com as políticas do governo. Pura e simplesmente as manifestações não são a minha cena. Mas também não sei se amanhã não participarei numa...

Seja como for, a situação que as pessoas vivem hoje em dia é insustentável. O pessoal quer lá saber do valor dos juros que Portugal tem que pagar. Isso não é tangível para o povo. O pessoal quer é saber se tem ordenados que lhes permitam viver com alguma segurança e dignidade. O pessoal quer é saber se vai ter trabalho amanhã ou alguma garantia caso esteja doente. O pessoal quer é saber que o Estado estará a seu lado quando tiver filhos, quando os mandar para a escola, quando lhes der uma casa.
E nada disto está a ser sentido.

Eu já antes aqui disse que simpatizo com o PS. E continuo a fazê-lo. Mas como também já o disse, não o faço cegamente. Porque vejo o que se passa e as barbaridades cometidas por este governo. E também muito pelos governos anteriores, como concordarão.
Uma coisa que me irrita sobremaneira no Sócrates é a falta de humildade e a parca percepção que parece ter da realidade em que as pessoas vivem! E isso parece-me ser a sua falta principal da qual derivam muitos dos outros problemas...

A política é muito feita de aparências e, sobretudo, de exemplos. Como é que eu poderei acreditar numa classe política que vive de reformas acumuladas? Que vive de subsísidios de reintegração na comunidade? Que vive de motoristas e de carros de alta cilindrada?
Em termos até mais concretos, custa a perceber como é que os gestores públicos recebem pipas de massa, mesmo que as empresas que gerem acumulem prejuízos. Custa a perceber a insistência em projectos megalómanos - mesmo que eu concorde com a sua necessidade - em vez de esperar e ser paciente. Custa a perceber como é que o filho deste e daquele entra em posições xpto sem experiência e sem mostrar o seu valor de forma objectiva. 
Também não percebo aquela coisa triste do governo tentar calar determinadas vozes que o incomodam. Mas também não percebo como é que um presidente faz o discurso que faz quando teve 5 anos para fazer o que achasse por bem. E não percebo como é que o líder da oposição quer o lugar de primeiro ministro quando não tem qualquer experiência de governação relevante.

Se o governo vive num mundo algo autista em que o que importa é cortar, cortar, cortar - o que dadas as condições da economia mundial até se compreende - sem dar nada em troca e sem dar esperança ao povinho, os restantes lacaios da política não estão muito melhores. Todos eles parecem querer o poleiro, sem pouco lhes importar as políticas transversais pensadas a longo prazo ou o facto de haver mais de 2 milhões de pessoas no limiar da probreza num país da União Europeia do século XXI.

O país está é a precisar de pessoas que trabalhem de facto para o bem de todos e não somente de alguns.

Mas não posso terminar este meu texto sem uma palavrinha aos meninos que saem agora da faculdade e já querem grandes empregos... A não ser que pertençam ao clube muito exclusivo que mencionei acima, tirem o cavalhinho da chuva. Tal como eu, como os meus pais e os meus avós, também vocês terão que começar por baixo. Nada vos cairá no colo a não ser que, quem sabe, comecem por uma posição de assistente de qualquer coisa para depois terminarem a vossa carreira como CEO. As coisas são assim e vergonha é não querer trabalhar.

(Atenção que esta última ressalva não serve a todos, claro.)


2 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Concordo com o que dizes de Cavaco mas sou bem mais crítico do que tu em relação a Socrates e sou punitivo via eleitoral. É o bom de so se votar naquele partido que naquele momento garante as melhores condições.

Socrates é autista e ditador. Casos como o STJ com um Noronha Nascimento vendido, um PGR hipotecado, sem falar na falta de vontade política na investigação de tudo, no combate à corrupção e no despesismo com mordomias de um Governo (Não Estado) que se cortasse fundaçoes, insitutos públicos às moscas e inúteis e afins, como assessores de assessores e frotas automoveis pornograficas quase comporiam o défice público, então sim, temos de nos insurgir, porque o desemprego e a precariedade embora tenham outras latitudes decorrentes do mercado europeu onde estamos inseridos, se não houvesse políticas erráticas, profundas e longas por trás, por certo o desemprego era francamente menor e a precariedade talvez nao atingisse níveis tao profundos para so falar dos males que a geração à rasca sente de forma profunda mas nao comparavel a tantas outras miserias que grassam e grassaram, e instalando-se em argumentos bonitos e activistas, nenhum GOverno consegue dar vazão a tantos licenciados, tantos cursos, tanta evolução social. A falta de horizonte num licenciado sem emprego nao é a mesma de um homem ou mulher com 50 anos igualmente licendiado ou mestrado ou doutorado e também com vinculos precarios.

O que tento dizer, é que nao se deve refilar por dá cá aquela palha, e quando se refila, se fosse com a mesma convicçao e força de um mal nacional que culpa directa e obejctivamente a política, penalizando-a em eleições, e nao manifs por tudo, ora da CGTP ora da X, Y ou Z, até a manif dos profs que concentrou milhares deles foram apenas um zumbido para o GOverno, mas pelos menos estava mais estruturada, então por certo o governo cairia e o povo teria em suas mãos a verdadeira moção de censura, e nao gritar (dembora legitimamente) por qualquer chuvisco que me cai em cima, como se o GOverno (e longe de mim legitimar este ditador Socrates e já agora todos os que reincidem em votar neles que é uma daqueles paradoxos que me dá vontade de lhes dar um estalo porque se contradizem na forma) pudesse resolver os males do mundo num mundo global e interdependente. Enfim, nao vamos estar a falar disto porque a tal refelxão nao se faz em threads destes nem e meia duzia de linhas, nem me acho melhor que ninguém, mas penso que devemos sérios sempre que contestamenos eeja o que for, e mais do que isso, consistentes connosco mesmos, com as nossas atitudes.

J. Maldonado disse...

Existe um certo empolamento por parte dos Media em relação à geração À Rasca.
As dificuldades que ela vive, também já viveu a geração anterior, denominada de Rasca ou X.
A hiper-qualificação das novas gerações é uma consequência— salutar, a meu ver— da democratização do ensino superior, uma das grandes conquistas de Abril.
Infelizmente o desenvolvimento económico do país não acompanhou essa tendência, porquanto as empresas não se adaptaram à realidade do mercado internacional.
A maioria dos empresários não tem visão estratégica, não apostando na inovação nem na formação. Muitos deles ainda pensam como fazendeiros do Ultramar…
O mal não está nos cursos, pois, se assim fosse, só se formavam meia de dúzia de três ou quatro pessoas por ano, para que não houvesse excesso de diplomados no país, mas no desfasamento entre as universidades e o mercado de trabalho.
Por exemplo, um bioquímico ou um físico só consegue trabalhar na sua área no estrangeiro, onde as empresas apostam na inovação, aqui só tem duas alternativas: o ensino ou o desemprego. E assim por diante…
Continuamos pequenos em tudo, inclusive na forma como encaramos a utilidade do diploma.
O mal da nova geração foi ter crescido mal-habituada, i.e., super-protegida e mimada pelos pais, a pensar que assim que saísse da univ conseguia logo um emprego chorudo. Há que procurar alternativas!
Tanto esta geração como as vindouras têm de mentalizar-se que o poder reside na sociedade civil. É esta que tem de fazer pressão junto do poder político a fim de que as suas aspirações sejam tidas em consideração.
Já agora, votar na mudança também é uma forma de pressão…