terça-feira, fevereiro 20, 2007

Funeral

Uma das minhas alunas do oitavo ano falaceu ha uns dias. Ela tinha entrado num misterioso coma, depois de ter desmaiado num dos banhos japoneses. Nao quis indagar demais, mas ninguem me soube dizer o que lhe causou a morte.
Hoje foi o seu funeral. E eu achei por bem que deveria ir, para lhe prestar a minha homenagem. E tudo foi tao diferente.
Alguns professores (incluindo o presidente da escola) e os alunos do oitavo ano foram a pe ate a um centro funerario (nao e um templo, mas sim um sitio onde se realizam as cerimonias funebres) perto da escola. Ai, sentamo-nos e aguardamos pelo inicio das exequias.
Ouviu-se uma voz pelos altifalantes a dar incio a cerimonia.
Na sala, havia um grande altar com fotografias da rapariga e alguns objectos pessoais, incluindo o material que usava no clube de tenis. Em frente do altar, o seu caixao branco. De lado, cadeiras para os professores. Do outro lado, cadeiras para a familia. No resto da sala - e fora desta, onde acabei por me sentar - defronte para o altar, mais cadeiras para todos os convidados.
Entraram duas pessoas. Um homem e uma mulher vestidos com roupas tradicionais, mas nao kimono. Vim a saber que ele seria um sacerdote... Ela... Ninguem me soube explicar. Cantaram alguns canticos inciais. Depois, foi altura de prestar homenagem a falecida. Primeiro o pai, depois a mae e a irma, a restante familia, os professores, os alunos e outras pessoas. Todos fizeram o mesmo: aproximaram-se do altar e do caixao, pegaram num pouco de incenso em flocos, chegaram-no a testa e colocaram-no a arder em pequenas tacas, unindo as maos de seguida, rezando.
Eu fiz o mesmo.
Enquanto todos os presentes prestavam a sua homenagem, o sacerdote e a tal senhora continuavam nos seus canticos incessantes, marcadamente pesados. Sempre a capella, intercalado com batidas num pequeno sino.
Depois disto, a mesma voz que dera inicio a cerimonia, continuou a dar instrucoes. Por esta altura, havia muita gente a chorar. Os miudos da turma dela, a familia, os professores. E foi altura de se fazer a elegia. Primeiro uma aluna do clube de tenis. O seu discurso estava amputado pelas lagrimas que lhe caiam e pelo choro dos outros. Depois uma representante dos alunos.
De repente (mas de forma planeada, claro), aqueles que haviam sido os seus companheiros de turma levantaram-se e cantaram todos juntos para ela. Um momento lindo, como seria de esperar que terminou com muitas lagrimas de todos.
Por fim, o pai falou. Somente o pai. Percebi que agradeceu a todos.
A cerimonia per se tinha terminado. A familia colocou-se em linha junto a porta de saida e todos os presentes fizeram uma ou mais venias em frente a familia, como o ultimo conforto.
Toda a gente se perfilou fora do edificio, esperando o carro funerario passar. Os animos ja estavam um pouco melhores, mas a dor voltou quando se viu o mesmo caixao branco deixar o edificio, entrar no carro funerario e partir para o seu ultimo destino. O pai seguiu junto da filha. A familia seguiu-se-lhe em carrinhas e mae seguiu, por fim, com a outra filha, conduzindo o seu carro e, mesmo assim, com o semblante carregado, agradecendo a todos.

Nao chorei. Pela primeira vez, fiquei satisfeito por nao perceber japones. Sei que se entendesse as palavras teria sido bem pior. Mas uma coisa e certa: a dor e sempre sentida da mesma forma. Curioso e ver que ninguem se abraca ou beija ou se conforta de forma desbragada.

Uma cerimonia exemplar, infelizmente pela pior da razoes. Nunca me esquecerei de quando o meu avo morreu e o padre, no seu discurso do costume, nem o nome do Norberto conseguia ler...

Escrevi tudo isto, de forma corrida, sem pausas, porque nao fiquei indiferente ao que vi. E precisava de exorcisar a minha pena de alguma forma. Obrigado.

3 comentários:

Anónimo disse...

So para te dizer k pra nao variar, so de ler a tua narrativa, ja me vieram as lagrimas aos olhos, o que faria se estivesse la a assistir...mas tu ja sabes como e a tua Maka, uma chorona! :)
Mas tambem te quero dizer que cada vez escreves melhor e que parecia que estava a ler um capitulo de uma livro qualquer, adorei! (nao o contexto como e obvio, mas a maneira como o descreveste).
Tenho-me lembrado tanto de ti ultimamente...saudades

Mari xxx

Anónimo disse...

infelizmente fiquei como que anestesiado contra a morte depois da pessoa que estava ACIMA de Deus (a minha Mãe) ter ido embora sem aviso nem suposição de quem quer que fosse (medicos, familia, whatever)... quando tudo fazia prever uns aninhos ainda entre nós...

Unknown disse...

Amigo deve ter sido um episodio inesquecivel na tua vida, mas é bom saber que outras culturas "celebram", estas passagens da vida de forma bastante diferente da nossa. Parabens pela forma como descrevestes, por momentos senti que estava a ler um best seller hehehehe.

Mais cedo que esperas estou aí...

Saudades

Jose Kali xxxxx