Isto tem sido uma festa, desde que o novo governo tomou posse. Primeiro, a pressa de formar governo com o senhor presidente agora cheio de pressas e com vontade de intervir, depois a cena do subsídio de Natal e, no meio disto tudo, a oposição.
Ora bem, está-se mesmo a ver que isto não é a Grécia. Não só porque os problemas são diferentes - afinal, e apesar de tudo, não temos 45 jardineiros a tomar conta de dois arbustos! - mas também porque ninguém saíu à rua assim que o corte no subsídio de Natal foi anunciado. Curiosamente, esta medida não estava prevista em lado nenhum e quer-me cá parecer que o nosso caro primeiro ministro já se antecipou ao Natal oferecendo-nos esta pequena prenda. Afinal, o Natal é quando um homem quiser.
Mas achei curioso a forma como a notícia foi anunciada pela comunicação social. Fosse ela a TVI ou o Diário de Notícias. É que parece que as parragonas não davam bem conta da realidade da medida, já que nenhum subsídio de ninguém será cortado em 50%! O que será taxado nessa percentagem será o remanescente depois do salário mínimo! Não quero com isto dizer que a medida é boa! Mas há que dar conta dela como deve ser.
Seja como for, isto vai pôr muita gente a fazer contas, num país onde se ganha tão mal, que o pessoal tem que contar com as benesses de 6 em 6 meses para poder meter as contas em ordem ou para se poder esticar mais um bocadinho... É mesmo muito triste e digno de um país sub-desenvolvido. Depois admiram-se da subsídio-dependência.
Mas há medidas que não foram tão partilhadas e que me satisfazem. Uma delas, por exemplo, é o facto de quem receber o rendimento de inserção ter que vir a prestar obrigatoriamente serviço comunitário. Acho muito bem, que essa subsídio-dependência, ainda que gerada estruturalmente, tem que ser mitigada.
Vai ser giro a gritaria de muita gente à porta das instituições a dizer que lhes dói as costas e que não podem. Vou pagar para ver.
Curiosamente, esta medida era já aplicada nos Açores. Bastião socialista.
Mais, parece, afinal, que umas quantas centenas de escolas já não vão ser fechadas e que este acto será reponderado. Haverá também a retirada do Estado de muitos sectores da sociedade como, por exemplo, do apoio aos mais pobres, que será deixado, pelo que li, às instituições que trabalham com eles. Será bom ou não, não sei... Mas depressa saberemos. A verdade é que têm mais conhecimento do terreno.
Parece que também vamos poder escolher livremente os nossos médicos e, até, se queremos ir ao público ao privado... Ora bem, eu cá sou a favor da competição e, por isso, vamos lá! Quando mais escolha e estalada houver, melhor para quem procura um serviço decente. O que me preocupa, porém, é que muitas gestões possam ser entregues a privados... E áreas sensíveis como a da Saúde podem ser um problema...
E por falar em áreas sensíveis... Então e a Cultura já não é importante?! Já não merece um ministério?
No fundo, o que me assusta é que há umas quantas medidas que aplaudo e umas quantas outras que me deixam algumas reservas. A saída do Estado da sociedade atira-nos no vórtix do liberalismo e isso tem os seus riscos.
Mas a cena é que este primeiro-ministro faz-me lembrar o Sócrates dos primórdios: bem parecido, cheio de coragem, cheio de ideias... A ver vamos.
E depois há a oposição. Assim de relance é interessante olhar para ela, senão vejamos:
- PS... Apagou-se. Desapareceu e parece que está do tamanho da sua líder de bancada interina. Parece-me uma consequeência normal do realinhamento do fiel da balança dentro do partido, depois da saída do Sócrates. E não sei se o Assis não estaria demasiado colado ao antigo líder para vir agora pregar coisas...
Não fosse o Mário Soares a dizer das suas e não se ouvia ninguém abrir a boca no PS;
- PCP... A piada de sempre. Agora, e desde do início da campanha, que andam a falar da esquerda patriótica... Whatever that means. E aquela teimosia soviética de não falar com os senhores que cá vieram ver a merda que os nossos políticos fizeram foi um erro crasso! É que já não se trata de um partido se manter fiel aos seus ideiais... Trata-se, isso sim, de pensar no que é melhor para o país, no ser-se pragmático e viver-se a realidade que nos rodeia!
- BE... Bem... Estes, coitados, levaram uma abada que nem sabem de onde veio. Mas, lá está, precisam de reunir as tropas, pensar que isto já não é o Maio de 68 e pensar que fazem parte do Parlamento. Aliás, também caíram no erro de não dialogarem com a troika... Mesmo que fosse para dizer vão dar uma volta, butes mas é beber umas bejecas e ler Trotsky.
Entretanto, nem se ouve ou vê o Paulinho das Feiras. Já está como quer, não chateia ninguém.