domingo, outubro 16, 2011

Portugal agora

Tenho andado afastado aqui do meu cantinho, mas não tenho andado afastado da realidade que me rodeia. 
Na passada quinta-feira o senhor primeiro ministro de Portugal anunciou ainda mais medidas de austeridade. Claro que ninguém gosta delas e, embora estejamos ainda no início da legislatura, vamos ver como corre a saída do buraco. É que todas estas medidas podem sair-lhe muito caro.
Vejo muitas vezes serem apontados dedos à procura de responsáveis e a mim, quer-me cá parecer, são todos culpados. Todos os que deixaram o país chegar onde chegou, mas também todos os outros que, mesmo não vivendo cá, sobrevoam-nos como abutres.

Mas este meu pensamento não vai bem para as medidas de austeridade. Algumas delas, acho, de facto necessárias, porque Portugal tem problemas estruturais profundos que precisam de ser resolvidos. Mas este pensamento que aqui deixo escrito vai mais para aquelas coisas do dia a dia que precisam de ser mudadas. Porque o que nós temos que almejar é, pura e simplesmente, a excelência. Se assim não for, morremos. É a teoria de evolução darwiniana aplicada à sociedade.

Há dias deu uma reportagem na SIC sobre as lojas que encerravam em catadupa na Baixa de Lisboa. Falava lá um rapazola bem-posto com quem eu concordava a cada palavra. Ele falava do problema dos lojistas mais velhos em não entenderem as mudanças na realidade. Porque, claro, são os lojistas que têm que se moldar à realidade e não o contrário. 
Claro que o queixume era muito. Compreende-se, dado que aquelas lojas, apesar de antiquadas - o que é muito diferente de vintage! - são o dia a dia daquelas pessoas. Mas não vendem.
O tal rapazola também dizia que os lojistas amadores da Baixa não podiam competir com aqueles treinados em marketing que gerem as grandes superfícies comerciais. E é bem verdade. Mas se eles, sozinhos, não conseguem, porque não se organizam!? Há lá melhor do que irmos às compras na Baixa, naquelas ruas umas a seguir às outras e econtrarmos aquilo que queremos ao preço que queremos!? Eu prefiro mil vezes andar por um lugar com história, do que ter o pessoal de fato de treino a passear-se no Colombo.
Mas para que esta organização aconteça, a Câmara teria que intervir. Porque não seria possível a estas pessoas organizarem-se assim sem mais nem menos e muito menos sem a ajuda de quem pode tornar o espaço físico ainda melhor.
No fundo, as instituições públicas deviam também ter ideias e propô-las. Ajustarem-se, também elas, à realidade que as rodeia.
Não quero com isto dizer que, por exemplo, a Câmara de Lisboa não intervenha exemplarmente. Tem, também a título de exemplo, dado grandes passos ao nível da conservação de edífcios, com apostas na insenção ou redução de impostos...

Nessa mesma peça da SIC uma das lojas vendia fatos de macaco e fardas em geral. Um nicho de mercado que seria de aproveitar. Mas fá-lo num vão de escada, sem provadores nem nada. Ora, quem é que lá vai!?
Claro que não se põe aqui em dúvida a simpatia e dedicação dos lojistas, mas Portugal em geral tem que perceber que a gestão tem que ser vista de uma perspectiva macro e não pode ser amadora. É que não pode ser mesmo!

Pegando neste ponto, aliás, o mesmo se aplica às ideias geniais dos nossos governantes do Estado central. Ora há TGV e depois não há. Depois há uma linha e o ramal de Sines vai à vida. Ora há aeroporto de Beja ora tem um vôo por semana. Isto assim não pode ser! As medidas tomadas e as obras construídas, sejam elas quais forem, têm que ter um obejctivo claro. E esse objectivo tem que ser cumprido. Senão para que queremos nós um TGV que acaba no Poceirão ou que não escoa os produtos de uma das portas da Europa por excelência?! Ou para quê que nos serve um aerpoorto no meio do Alentejo se não há ligações, investimentos e o café lá do sítio só abre aos domingos de manhã quando o vôo para Londres sai?!
Sejam profissionais e pensem na perspectiva geral. Não numa obra sozinha. Não numa medida avulso.

Mas não vamos mais longe. Há pequenas coisas que fazem toda a diferença e que mostra bem o amadorismo dos gestores. Por exemplo, o terminal de transportes na estação de metro da Amadora foi todo construído de raíz. Mas não tem um espaço para tomada e largada de passageiros, sendo que os carros param na paragem dos autocarros e lá ficam atrasados e lá complicam a vida a toda a gente.
Lá está: amador.

Por falar em transportes, que é um assunto que muito me fascina... O governo vai ter que dar a volta à dívida gigantesca dos operadores de transportes públicos (é bom que se entenda que esta dívida também passa pelo pagamento aos operadores privados de transportes públicos de compensações que lhes são devidas!). E acho muito bem, que assim não se chega a lado nenhum. Mas pelo aumento das tarifas?! É um absoluto contra-senso. Pela simples razão que o pessoal não quer pagar se a qualidade fica na mesma mediocridade (e já para não falar do óbvio rombo nas carteiras). E não me refiro nem à Carris, nem ao Metro e até nem à CP. Refiro-me, isso sim, aos operadores privados, como é o caso da LT/ Vimeca que é verdadeiramente medíocre.
Os horários estão muitas vezes desajustados e depois há a duplicação de percursos.
Esta gente não entende que, por vezes, é preciso um investimeto inicial para que haja um retorno substancial. Eu dou um exemplo: aqui perto da minha casa, passam duas linhas com um percurso em tudo idêntico mas que, não raras vezes, e mesmo cumprindo o horário, passam as duas à mesma hora e no mesmo sentido. Ora, isto é um desperdício de recursos além de ser um verdadeiro desperdício do tempo dos utentes se, porventura, perderem os dois autocarros que passam ao mesmo tempo.
Isto pode parecer insignificante, mas não é. Porque isto é paradigmático de uma gestão descuidada, sem ser supervisionada. E que custa dinheiro ao Estado que tem que subsidiar cada viagem feita, mesmo que o segundo autocarro a passar vá vazio!
Esta cena triste, felizmente, já não acontece em Lisboa. E acho uma excelente ideia que o Metro e a Carris, tal como os respectivos no Porto, sejam fundidos. Porque assim é que as coisas funcionam complementarmente.
Mais, só lamento que não haja uma entidade que surpervisione a complentaridade dos transportes nas áreas metropolitanas. Assim, se calhar, acabavam-se os meus dois autocarros no mesmo sentido e no mesmo percurso e acabavam-se as, muitas vezes, prolongadas esperas entre diferentes meios de transporte.
E com um investimento inicial, o Estado pouparia muito mais dinheiro!
Se nos queremos tanto aproximar das médias europeias, não sejamos clientelistas, e criemos agências de gestão dos transportes por zonas metropolitanas como acontece em qualquer cidade europeia!
Dinheiro... Subsídios... Enfim... Coisas do género.
O governo também decidiu que, nos próximos dois anos, não há subsídios na função pública para quem ganhe acima do mil euros.
É uma medida muito controversa e um problema para muitas famílias. É um facto. Mas quantos senhores que ganham milhares e milhares esta medida não ira afectar?! Além de que sejamos honestos: Portugal é um país de pobres no qual muita gente nem sequer chega a ganhar mil euros em Portugal. Eu, por exemplo, e mesmo trabalhando no privado e tendo algumas qualificações, nunca tal maquia ganhei ao fim do mês!
Mas a mim espanta-me, desde há muito, esta coisa dos subsídios de férias e de Natal. É a tal cena do coitadinho, da subsísio-dependência que é tão criticada, mas ao mesmo tempo absolutamente incutida pelo sistema (fruto de uma visão proletária dos revolucionários, claro está).
Tenho cá para mim que seria muito melhor ganhar mais por mês. Desta forma, eu seria completamente responsável pela gestão do meu orçamento mensal em vez de poder esperar por subsídios que chegam duas vezes por ano! Isso sim, seria incutir um espírito responsável e de ética na populaça! Assim é sempre vira o disco e toca o mesmo. Dívidas a serem pagas a posteriori por balões de oxigénio...
Mais, se este país fosse gerido por um patronato sério - e já lá vamos! - os trabalhadores poderiam receber, não um subsídio, mas sim um bónus. Pela sua performance e pela performance dos seus pares no todo. Isso motivaria toda a gente e faria com que cada um desse o seu melhor em vez de continuar enlameado no que é mediano.
E não me venham dizer que as empresas não fazem lucro! Sonae, EDP e amigas são exemplos de empresas que poderiam distribuir parte dos seus dividendos. E há empresas muito mais pequenas que poderiam fazer o mesmo. Talvez não neste preciso momento, porém.

Aproveito até para falar da responsabilidade social de algumas empresas. Que deveriam seguir uma política capitalista solidária e não um assalto aos bolsos de todos nós. Peguemos, por exemplo, na mesma EDP que referi ali acima: como é possível terem tantos milhões de lucro e ainda nos quererem aumentar as tarifas de electricidade?! Isto não faz sentido nenhum!
O senhor Mexia dizia que a maior parte dos lucros da EDP vinha do estrangeiro... E se assim é, porque não dar uma migalhinha de esmola aos lusos?! O embate seria mínimo, não?!
Tenho cá para mim, que o dinheiro gasto naquela campanha da treta passada na TV com um sorriso - que devia ser verdadeiramente amarelo - seria mesmo melhor gasto na diminuação das tarifas para todos nós!
Sejamos sérios, senhores!

Uma coisa que também li nas medidas inscritas pelo governo para breve era o aumento do imposto sobre empresas que lucrem mais do que x milhões. Acho uma óptima medida, que havia de ter sido tomada há muito mais tempo, mas, lá está, estou para ver em que moldes será aplicada!

Mas voltemos ao patronato - termo que repudio, de tão blazé que é, mas não há melhor. 
Eu estou tão feliz por trabalhar numa empresa que não é, de todo, gerida à portuguesa. É uma empresa que tem a sua hierarquia como qualquer outra, que tem o seu modus operandi como qualquer outra, que tem os seus objectivos de mercado como qualquer outra. Mas não tem nem doutores nem engenheiros, embora os tenha aos magotes. E até gabinetes são pouquíssimos.
É que a "gestão à portuguesa" passa pelo "senhor engenheiro", que teima em ser interpelado assim porque se pensa a mais que os outros, que vive numa dimensão completamente diferente da dos seus subordinados, que manda, mas não comunica. E isto é profundamente errado! E o problema é que acontece tanto no privado como no público.
Os "senhores engenheiros" desde país têm que entender de uma vez por todas que são NADA sem quem os suporta. Que precisam de ouvir a base do seu negócio, que precisam de interagir com esta mesma base para que este possa seguir em frente e vingar.
Felizmente, acho, há mais gente a pensar desta forma e que, pouco a pouco, as coisas vão mudando!

Mas a situação é tanto mais gravosa na gestão das instituições públicas - muitas delas, como todos sabemos, redundantes e com responsabilidades sobrepostas e confusas - porque mexe nos bolsos de todos nós. Confesso, porém, que sorri quando vi que uma das medidas do governo para o ano seria a punição dos gestores de empresas públicas que dessem prejuízo. Mas eu gostaria de saber em que termos essa punição acontecerá. É que se for transferi-los para outro sítio, nem as moscas mudam e o problema não se resolve... Vamos esperar para ver.

Os institutos, fundações e mais não sei quê públicos têm que ser redesenhados. Tal como o mapa do poder local será. E acho que essa é uma medida que devia ter acontecido há já muito tempo.
Acho que, provavelmente, fundir freguesias não será um problema de maior. Mas o problema maior será o de fundir municípios. Porque irá chocar com os sentimentos de pertença do povo. Mas lá está, neste caso há que comunicar, falar, explicar. Porque a ignorância e o desconhecimento não são bons conselheiros... E as decisões cuspidas de Lisboa para uma terreola no meio do nada nunca cairão bem!

Outro problema gravíssimo deste país é o sistema judicial. Conquanto tenhamos uma polícia de investigação criminal muito boa - entre as melhores da Europa - de que nos serve encontrar provas se os culpados não são julgados ou se esquivam por entre os muitos recursos possíveis?!
Isto é intolerável! E não pode acontecer. Sobretudo quando os acusados são da esfera política que devia, a meu ver, ser o baluarte da correcção e da ética!
Vejamos o caso do Isaltino Morais... A dias de poder deixar de vir a ser condenado! E ainda poderá ter que ser ressarcido pelo Estado, por todos nós!
Eu não sei se o senhor é culpado ou não, mas sei que erros de procedimento não podem ser cometidos e também sei a justiça tem mesmo que ser cega e, sobretudo, célere!
E depois há ainda outro exemplo: o Alberto João Jardim!
Bem... É giro termos um senhor que chama Sr. Silva ao nosso presidente ou filhos da puta ao jornalistas. E no meio disto tudo desfila no Carnaval do Funchal. Mas onde é que está a sua condenação pelos desvios monumentais nos gastos da Madeira? Ou por andar a transportar pessoas para as eleições em carros públicos?! É que, contra este senhor, ninguém faz nada! E o povo não compreende.
Mas depois temos o reverso da medalha... É que nos feudos de ambos as coisas funcionam, há de tudo, são sítios belos. Ou seja, o povo continuará a votar neles porque, quer queiramos quer não, deixaram obra feita. Por isso, lá está: ou a justiça se aplica rápida e eficazmente, ou senhores como estes continuarão o mesmo modo de agir!
E a justiça tem que ser célere também noutro campo: na cobrança de dívidas. Nem que seja ao próprio Estado! Bem sabemos que agora está com os cofres praticamente vazios, mas é o Estado que tem que ser exemplar no pagamento das suas dívidas, pela simples razão de que se este não injectar dinheiro na economia, esta última acaba por ficar moribunda. E esse é um risco que não podemos correr!

No campo da criação de legislação também há muito que fazer. As leis, sejam elas quais forem, devem ser claras. Sem terem subterfúgios. Mas mais importante que isto seria a sua aplicação atempada e sem subterfúgios. Se alguém estaciona mal, é pagar a multa; se um senhor deputado falta demais, é ser-lhe descontado; se alguém abusa do poder, é julgá-lo.
No fundo, é preciso que quem gere este país entenda que os amigos não lhe servirão de nada e que a lei da República se sobrepõe a tudo o resto. Se é verdade o que li sobre o gestor cessante de uma coisa chamada ERSE - entidade pública de supervisão dos serviços energéticos - como é que esse senhor se demite do cargo por sua livre vontade e ainda vai andar a mamar 12.000 euros por mês de todos nós até econtrar um tacho novo?! Como é que esta República admite que um conselho de administração, que decide soberanamente sobre si mesmo, se sobreponha às indicações da lei do Estado!?
É sacar-lhe o dinheiro já!

Uma ideia do governo do Sócrates com que sempre simpatizei, é a ideia do Simplex. Acho isto absolutamente imperativo: tem que se acabar com papéis e papelinhos, com gente que faz o trabalho que outro irá fazer logo a seguir, com os prazos intermináveis para se carimbar um papelote, com a burocracia asfixiante deste país.
Há dias falava com alguém estrangeiro e que falava do seu casamento com um português. Ela falava da confusão de informações que tinha, do facto de cada pessoa em cada sítio lhe dizer uma coisa. E isto prova bem como este país funciona. Lá está, a clareza das leis do Estado, das suas orientações tem que ser clara! Para que cada um saiba exactamente quais as suas responsabilidades!
Lojas do Cidadão que se limitam, na práctica, a juntar a burocracia toda num só sítio não resolvem absolutamente nada!

Portugal tem todos os ingredientes para resultar. Porque tem um potencial gigantesco para o turismo - que ainda mal arrancou e deixem mas é a Ryanair voar para Lisboa e acabem mas é com os choradinhos amuados! - porque consegue, apesar da educação medíocre que ministra, dar ao mundo técnicos cobiçados por todos. 
Temos cá pessoas que trabalham arduamente, mas são mal pagas pelo seu esforço. Temos espaço para florestas, para agricultura - cujas políticas de abandono parecem estar a mudar! 
Precisamos é de uma gestão cuidada e planeada. Mas ao estilo do governo por consenso da Escandinávia. Precisamos de guias fortes e determinados  e que, como diz a minha mãe, vejam a realidade da verdade e não vivam na ilusão.
As coisas estão difíceis e ficarão ainda mais complicadas. Mas depende de nós, enquanto país, enquanto cidadãos, enquando seres pensantes, dar a volta a isto. Porque viver no passado não nos serve - veja-se o vídeo para a Finlândia! - e temos é que ser modernos, pensar de forma inovadora e andar para a frente! Que para a frente é que é o caminho!



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