quinta-feira, julho 16, 2009

Mais um dia de sayonaras

O dia até nem começou muito bem. Estava convencido de que o comboio para Kaku era às 07.28. Por isso, quando vi dois comboios na mesma plataforma, não hesitei em pensar que era o da linha 7, o tal das 07.28. Mas estava errado, porque não sei que confusão fizera, mas o comboio era às 07.26. O da linha 8. Aquele que o Jeremy, que ia comigo, e eu perdemos por um segundo, quando me apercebi do erro.

Vai daí, viro-me para o Jeremy e digo-lhe vamos mas é de taxi, senão nunca mais. E assim foi. 2000 ienes depois estavámos em Kaku, muito a horas da cerimónia que a escola havia preparado para mim.

Estou em Kaku há quase três anos, conheço todos os alunos e professores. As senhoras da cozinha. Alguns pais e tudo.
Esta escola tem alunos da primeira classe ao nono ano. Uns 600, senão me engano.

Quando entrei no ginásio fiquei extasiado. Toda a gente ali. Todos os alunos, todos os professores e quase todo o pessoal. Todos alinhados. Todos a baterem palmas para alguém que os adora e com quem passou muito tempo.





Deram-me uns presentes feitos por eles. Cartas. E recebi umas flores lindas, que cheiram tão bem e que agora estão em casa a encantar-me.


Estava quente. Mas parecia que nesse momento isso era o que menos importava. Porque o que eu queria, no fundo, era abraçar cada uma daquelas pessoas.
Li um discurso que preparara. Um pouco cumprido, é verdade, mas tinha que lhes dizer tudo o que sentia. E toda a gente sabe que eu digo sempre o que sinto.
No final, deram-me os parabéns por o ter lido tão bem e pelas palavras que escolhera. Palavras essas que, sem o Taka que tanto me ajudou, não teriam sido ditas.

Por fim, cantaram para mim. Todos juntos e em inglês.




A Iwasaki-sensei disse-me que tinha visto os ABBA no meu blog e que por isso escolhera esta música: I have a dream, numa versão dos Westlife. E porque, e ainda segundo ela, tinha tudo a ver comigo.

E eu, ali, a suar, emocionado, a cantar com eles e a sentir-me tão feliz mas, ao mesmo tempo, a sentir-me triste por os deixar para trás.

Saí do ginásio. Feliz e a pensar caraças, esta gente é demais!


Seguiram-se quatro aulas da primeira classe. Aprendemos os nomes de algumas frutas e jogámos uns jogos.
Os miúdos disseram-me adeus. Os da última aula até cantaram para mim. De novo a I have a dream e eu ali extasiado a olhar para eles.
Mas na aula anterior os meninos queriam abraçar-me um a um. E eu, que tanto gosto disso, disse logo que sim. E qual a minha surpresa quando duas meninas me deram um beijinho na bochecha.
Isto em Portugal seria uma coisa perfeitamente normal... Mas não no Japão! Penso sinceramente que este acto daquelas duas kikas mostra o quanto gostam de mim. E isso, claro, deixa-me nas nuvens!
Aliás, em quatro anos, só me lembro de ter visto um casalito do liceu a dar um beijo às escondidas na estação de Kyoto! Isto mostra bem como este fenómeno é raro por aqui. Até entre pais e filhos.

Ainda dei mais uma aula. Os miúdos ainda mais doces do que o normal. Não sei se porque estou mais susceptível, se porque eles verdadeiramente sentirão falta de mim. Eu certamente pensarei neles muitas vezes.

Cheguei a casa e meti-me na cama a descansar a cútis que estava cansado. Dormi, levantei-me meio acéfalo e fui para o jantar de sayonara da câmara municipal. Há-o todos os anos e não podia faltar ao meu. Não que me faça muita falta, mas é sempre uma boa oportunidade para estar com pessoas fixes. Algumas delas, claro.









A famosa chefe...




Fiquei ao pé da minha querida Sayuri-sensei e da sempre fantástica Yuriko. Falámos imenso. Até sobre política japonesa. A Sayuri-sensei nem queria acreditar que eu sabia tanto da coisa e que era capaz de manter tal conversa em japonês! Mas, a bem dizer, nem eu às vezes sei como me lembro das coisas que me saem boca afora.


Mas o momento alto da noite foi ver a Shauna de vestido! E leggings!




A comida também estava boa.



Voltei para casa, pela fresca da noite - benditos os deuses japoneses! - e fui dormir.

2 comentários:

The White Scratcher disse...

Realmente essa gente parece ser especial e demostram que gostam muito de ti. Es o rapaz que move as massas,,, centenas de pessoas ao mesmo tempo,,, e cantam os Abba para ti.... ,, isso não é todos os dias,,,,aahahah

,,, se te apanha o Pipo,,,,,ahahah

Vanessa disse...

Tu és de, facto, extraodinário...The White Scratcher (by the way, nice nickname) tem razão...essa gente tem de ser especial, apesar dos apesares todos dessa cultura hermética, ritualística e cerimoniosa que eles têm, conseguem ter e fazer algo que à nossa falta e muito: reconhecer, homenagear, expressar pura gratidão, sem esperar muito em troca. Até porque o tu lhes deste não se traduz apenas em homenagens mas é muito bonito ver (ler e ouvir)toda uma comunidade, por pequena que seja mover-se, unir-se para celebrar não 1 "evento" mas uma outra pessoa.
Cá as fitas e festas dão-se mais pelas coisas e não tanto pelas pessoas. Pelos anónimos, pela "arraia miúda". E, todavia, é essa "arraia" que faz os nossos dias terem um pouco mais de cor.
Já te disse que me orgulho muito de ti?
E que estou cheiaaa de saudades?? Já?
Beijos milll.