Estava no trabalho a menos de uma hora de saír e as nuvens começaram a escurecer. A Zane até comentou - em português e tudo! - que estava escuro. De repente, olho para a janela e estavam a caír bolas de gelo! Sim, granizo, mas não era o granizo normal, piriri. Era um gelo enorme que caía, caía, caía. A Segunda Circular ficou logo entupida e a água, grossa, começava a correr estrada abaixo.
De repente, dispara o alarme! Ouvem-se pessoas a correr e saímos porta fora! O edifício foi todo evacuado. O pessoal a descer as escadas e, mesmo assim, havia quem subisse. E eu sei perceber porquê!!! Se fosse mesmo um caso de pânico, aquela gente estaria toda esmagadinha!
Chegamos cá fora, chovia torrencialmente... E o nosso ponto de encontro para situações de emergência era na rua... O que, escusado será dizer, toda a gente evitou.
Dali a pouco o pessoal todo voltou a subir e depressa estava a chegada a hora de eu saír...
Cheguei à paragem para apanhar a camioneta para casa. Fila. Esperei. Esperei. Esperei. E nada. Embora houvesse uns quantos autocarros parados por ali e motoristas para os guiarem... Adiante.
Lá veio uma camioneta e eu lá fui. Ía compostinha, mas eu sentei-me...
O primeiro problema no trânsito foi saír do Colégio Militar para chegar ao Fonte Nova... É que aquele cruzamento estava cheio de água! Não tinha menos que vinte centímetros... Os bombeiros já lá estavam e abriram uma tampa de esgoto para a água escoar...
Entretanto, via-se uma neblina estranha a saír do gelo... Como se estivéssemos numa câmara frigorífica gigante. E também se via a altura do gelo. Em alguns sítios, havia, na boa, quarenta centímetros.
O autocarro entra pela Estrada de Benfica. Mais água, muito gelo. Carros de um lado, carros do outro. Autocarros aqui e autocarros ali. Pessoas. Muitas. E carros dos bombeiros em emergência a passarem...
Mais algumas pessoas entraram.
Em frente á Igreja de Benfica, mais gelo muito alto. E naquela paragem entraram montes de pessoas que encheram a camioneta por completo! Como não via há muito.
Os velhos lá começaram com as sentenças do costume... Até às Portas de Benfica, lá íam a cagar sentenças... Ai que esteve muito vento! Olha as folhas! Ai que não se pode estar aqui dentro que não se respira e as janelas estão fechadas! Ai que isto só neste país é que isto fica o caos!
E eu muito caladinho, que não meto conversa com gente parva. Porque eu tinha resposta para tudo:
Não esteve vento, mas caíram pedregulhos do céu. É normal que as fragéis folhas caiam; Se as janelas estão fechadas, levanta a peida do banco e abre-las, que não és deficiente; Os outros países que deves conhecer é o Barreiro e, quando muito, Poceirão. Com a quantidade de água que caíu em tão pouco tempo é muito normal haver inundações em todo o lado; Ah, e velhos chatos, é escusado estarem a levantarem-se para ver porquê que os carros não andam apesar de estar verde! É que ninguém, mesmo ninguém, anda!!! Nem que esteja verde!
Mas, pronto, lá cheguei a casa são e salvo, sempre a ver água, carros com os quatro piscas, tampas de esgoto abertas, carros dos bombeiros, pessoas em todo o lado à espera de transportes.